Você há de concordar comigo: não existe
sensação melhor do que estar apaixonado. Todo o frenesi do primeiro
estágio, a descoberta do sentimento que ensaia nascer até o momento em
que a raiz já se espalhou por todo o nosso corpo – todas as borboletas
inquilinas do nosso estômago, por todo coração acelerado: desenfreadas
são as delícias de estar apaixonado!
Amar e ser correspondido, então, é a
verdadeira dança de corações em festa. Eu, ainda inexperiente e filha de
pais separados desde que consigo recordar, lembro de, ainda criança,
perguntar à minha avó como ela conseguia viver tantos anos com o meu
avô. Não era possível, para aquela criança, que duas pessoas
conseguissem conviver por tanto tempo e ainda assim se amarem.
Amor, disse a minha avó, é para aqueles
que têm coragem de enxergar além do felizes para sempre. Na época não
entendi muito bem o que ela quis dizer, acenei com a cabeça e fingi ter
entendido o segredo do Universo. No entanto, hoje, ao rever as fotos de
família, o primeiro pensamento martelador foi a frase intrigante da boa
velhinha. Amar é ter coragem de saber que nem tudo será flores, mas
ainda assim mergulhar de cabeça em toda essa confusão.
Se ainda estivesse viva, visitaria hoje a
minha avó só para concordar: amar alguém é amar também todos os seus
defeitos. Você pode até achar esquisito, mas é verdade. A geração atual
tem mania de querer mudar o outro, moldá-lo diariamente para que, no
final, haja punhados de clones espalhados pela redondeza. Mal sabem os
desavisados das delícias de se envolver com as diferenças. Estamos
destreinados a conviver com seres dotados de suas próprias
personalidades e esquecemos o quão fascinante e enriquecedora pode ser
esta experiência. Defeitos, diria à minha avó, são a prova real de que
ainda existe o amor.
Isso porque é muito fácil amar o galã de
novela das oito, o ricaço e o Sr. Perfeição. Mas onde ficam os tiques,
chiliques e trambiques? Mais uma novidade para você, que espera um conto
de fadas do seu relacionamento: já se perguntou por que todas as
estórias – novelas, comédias românticas ou contos de fadas – terminam
com o casamento do casal perfeito? O que vem depois da festa?
Pois eu te digo o que vem depois. Depois
é que vem o amor. O verdadeiro amor não tem hora para surgir, é
verdade. Mas cria raízes com a convivência. Se fortalece nas provas que a
vida impõe. Depois da grande festa vem aquilo que a princesa não
conhecia. O príncipe, apesar de amá-la demais, também ronca de
madrugada. Também repete aquela palavra que te incomoda, faz cosquinha
quando você quer falar sério e faz as necessidades de porta aberta. O
príncipe, apesar de ser um fofo contigo, não consegue se dar bem com a
própria família. O príncipe te ama. Mas não é perfeito.
Portanto,
vozinha, onde quer que você esteja, saiba que eu concordo contigo:
o amor é para aqueles que têm coragem de enxergar além do felizes para
sempre.
Nossa que texto lindo, maravilhoso mesmo!
ResponderExcluirUma forma tão bonita e singela para falar de amor.
Adorei seu blog, e você escreve muito bem!